O contexto geográfico e histórico da Crimeia
O interesse russo sobre a Crimeia
As tensões geopolíticas na Crimeia
As tensões geopolíticas internacionais
A Crimeia e o governo de Vladimir Putin
A posição geoestratégica da Crimeia
O leste europeu
Os países da europa oriental, ou leste europeu, tiveram uma trajetória de formação socioespacial diferenciada, quando comparamos aos demais vizinhos europeus.
Ao longo da maior parte do século XX, essas nações estavam associadas ao domínio soviético. Atualmente, três décadas se passaram pós independência, porém, na dinâmica e estrutura dos países ainda se pode perceber heranças espalhadas pela região.
Em 2015 por exemplo, Estônia, Finlândia, Letônia e Lituânia dependiam 100% do gás russo para abastecer suas demandas por energia. Em virtude disso, em 2017 Finlândia e Estônia estão construindo um novo gasoduto chamado de Balticconnector. A inovação permiritia comercializar gás natural de outros países, incluindo os Estados Unidos, para a Finlândia. Até então, todos os gasodutos da Finlândia vinham da Rússia e a novidade força uma redução de preços por parte da Rússia, assim como estratégias políticas para manter a dependência e a proximidade.
Atualmente, cerca de um terço de todo o gás da União Europeia vem da Rússia. Moscou continua buscando ampliar sua atuação, sendo possível citar a construção do gasoduto russo Nord Stream 2, que visa sobretudo aumentar a dependência energética da Alemanha, dobrando a quantidade de gás natural exportado. Os Estados Unidos já se posicionaram contrários a essa construção. De modo geral, pode-se dizer que há um receio de que essa aproximação sob a perspectiva da dependência econômica, gere também uma possibilidade de intervenção por parte da Rússia na política europeia.
O Conflito na Criméia
O território ucraniano é e sempre foi alvo de muitos interesses internacionais. A Ucrânia é o maior país totalmente europeu, além disso, a sua posição extremamente centralizada, a torna um divisor entre o Leste o Oeste. Por essas razões, o território que hoje é ucraniano, sempre foi considerado estratégico e, por isso, cobiçado.
Além disso, eles passaram por um processo de formação nacional recente. A Ucrânia fazia parte da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e só se tornou independente em 1991. Isso gerou uma divisão dentro do próprio país, pois a região oeste do país busca aproximação com a União Europeia, enquanto a região leste se identifica com a Rússia, não só pela proximidade, mas também pelo histórico que possui.
Do ponto de vista natural a Ucrânia possui um destaque mundial quando o assunto é agricultura, pois, conta com grande presença de Chernossolo (Tchernozion), considerado o melhor solo para agricultura do mundo. Juntando a fertilidade natural do país, a presença de grandes espaços de relevo aplainado e ao extenso território, a Ucrânia é considerada o celeiro da Europa (Em 2011 foi a 3ª maior produtora de grãos do mundo), sendo muito importante para os países tanto da União Europeia quanto do antigo bloco soviético.
Após o processo de independência, a Ucrânia passou pelo mesmo processo da maior parte dos países que compunham a URSS. Forte crise econômica, dificuldades de adaptação a moldes capitalistas, enormes escândalos de corrupção e fraude (herança de poderes conquistados em períodos ditatoriais).
A grande raiz da crise atual é a posição que a Ucrânia irá tomar, se favorável a União Europeia ou a Rússia. No ano de 2012, o presidente Yanukovich deu inicio a um processo de aproximação com a União Europeia. A assinatura do acordo entre Ucrânia e União Europeia estava marcada para o dia 29 de Novembro de 2013, contudo, no dia 21 de Novembro de 2013, o então presidente Yanukovich afirmou que o acordo não seria tão vantajoso para a Ucrânia e ainda a afastaria dos países do Leste Europeu (com destaque para a Rússia), sendo assim, estava decidido que a Ucrânia não mais assinaria o acordo com o bloco europeu. E isso gerou o início das manifestações populares, daqueles que acreditavam que o acordo com a UE seria o caminho para a solução de parte dos problemas econômicos do país.
Os protestos começaram porque o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, se recusou a assinar um acordo de aproximação com a União Europeia, preferindo se aproximar da Rússia. O governo ucraniano inclusive disse que os russos teriam ameaçado cortar o fornecimento de gás na região e tomar medidas protecionistas contra os produtos ucranianos caso Yanukovich não assinasse o acordo com o país. Alguns manifestantes contrários a isso resolveram ocupar prédios públicos e foi ai que o conflito começou.
O presidente Viktor Yanukovich foi deposto do cargo e foram propostas novas eleições. Enquanto isso o presidente do Parlamento ucraniano, Oleksander Turchynov assumiu o governo e começou uma campanha contra a Rússia e a favor da aproximação com a União Européia. Os pró-russos então começaram a criticar a deposição do presidente Yanukovich, dizendo que houve um golpe de Estado.
Em meio às notícias do conflito na Ucrânia um novo foco surgiu, a crise na Crimeia, região até então desconhecida para muitos do mundo ocidental.
De forma bastante resumida, a Crimeia é uma região autônoma de ocupação majoritária de população russa. O problema é que a península fica ao Sul da Ucrânia e compõe de maneira legal o território ucraniano. Os laços entre Rússia e a Crimeia superam a origem da população. Com o clima mais ameno que na maior parte da Rússia, a Crimeia é a grande área produtora de alimentos e provedora de acesso à água não congelada no Mar Negro, aliás, ao sul da Crimeia, na cidade de Sebastopol, fica a maior base da marinha russa.
A Crimeia era parte do território russo e possui maioria da população russa até hoje. Em 1954, Nikita Kruschev transferiu a Crimeia para a Ucrânia, num gesto simbólico. Em 1991 (com o fim da URSS), a autonomia da região foi restaurada, porém as tensões separatistas sempre existiram. No dia 17 de março de 2014 foi feito um referendo na Crimeia, e 96% da população foram a favor da anexação da região à Rússia. Esse resultado não foi oficialmente reconhecido nem pelo Ocidente, nem pela Ucrânia. O Parlamento da Crimeia declarou formalmente que a região se separou da Ucrânia e pediu ao Kremlin para ser anexada à Rússia. É claro que a Ucrânia não reconhece o governo da Crimeia e a Rússia ficou feliz em ter a Crimeia de volta, por isso tem feito de tudo para ajudar os separatistas. Em contrapartida, os Estados Unidos e outros países ocidentais se declararam a favor da Ucrânia.