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Aspectos da escrita do autor

Assista à professora Amara Moira analisar o livro "Angústia", de Graciliano Ramos. Confira!

Estudo da frustração

Psicopata ou homem comum?

O papel da mulher

Características estilísticas

Sobre o autor 

Graciliano Ramos foi um romancista, cronista, jornalista e político brasileiro. Nascido em Alagoas, no final do século XIX, o autor da segunda geração do Modernismo brasileiro construiu, a partir da fase social literária, obras que criticavam e analisavam os regionalismos do Nordeste. Famoso por escrever "Vidas Secas", romance em que retrata a vida itinerante de uma família com poucas condições sociais, que buscavam melhoria de vida, também foi escritor de textos cotidianos, mas carregados de ampla reflexão, de modo a tocar o íntimo do indivíduo - leitor. Não somente, também escreveu "São Bernardo", além de "Memórias de um Cárcere", obra autobiográfica.

"Angústia"

Desse modo, a obra "Angústia",  que entrou para a lista de leitura obrigatória do vestibular Fuvest no ano de 2019, foi escrita em 1936, época em que o escritor estava preso pelo governo de Getúlio Vargas, e também momento de amplas tensões sociopolíticas no país. o romance, então,  é reconhecido por ser uma das obras mais detalhistas e verossímeis em relação à sociedade da época. Segundo um dos maiores críticos e historiadores da literatura brasileira, Alfredo Bosi, o livro pôde representar a experiência mais Moderna do autor, uma vez que “tudo nesse romance sufocante lembra o adjetivo 'degradado' que se apõe ao universo do herói problemático; estamos no limite entre o romance de tensão crítica e o romance intimista. Foi a experiência mais moderna, e até certo ponto marginal, de Graciliano. Mas a sua descendência na prosa brasileira está viva até hoje". Veja um trecho:

Como certos acontecimentos insignificantes tomam vulto, perturbam a gente! Vamos andando sem nada ver. O mundo é empastado e nevoento. Súbito uma coisa entre mil nos desperta a atenção e nos acompanha. Não sei se com os outros se dá o mesmo. Comigo é assim. Caminho como um cego, não poderia dizer por que me desvio para aqui e para ali. Frequentemente não me desvio - e são choques que me deixam atordoado: o pau do andaime derruba-me o chapéu, faz-me calombo na testa; a calçada foge-me dos pés como se tivesse encolhido de chofre; o automóvel para bruscamente a alguns centímetros de mim, com um barulho de ferragem, um raspar violento de borracha na pedra e um berro do chofer. Entro na realidade ceio de vergonha, prometo corrigir-me.

-"Perdão! Perdão!" digo às pessoas que me abalroam porque não me afastei do caminho. As pessoas vão para os seus negócios, nem se voltam, e eu me considero um sujeito mal-educado. Tenho a impressão de que estou cercado de inimigos, e como caminho devagar, noto que os outros têm demasiada pressa em pisar-me os pés e bater-me nos calcanhares. Quanto mais me vejo rodeado mais e isolo e entristeço. Quero recolher-me, afastar-me daqueles estranhos que não compreendo, ouvir o Currupaco, ler, escrever. A multidão é hostil e terrível.

 Graciliano Ramos. Angústia. São Paulo: Círculo do Livro, 1988, p.107

Assim, a obra é narrada por "Luís da Silva", um funcionário público e escritor frustrado. Buscando retomar as memórias, começa a sentir insatisfações interiores quando relembra de seu noivado interrompido com Marina, que agora é casada com Julião Tavares.No entanto, ao relembrar tal situação, percebe as amarguras que existem dentro de si. Nesse sentido, Luís vai perdendo o interesse sobre sua própria pessoa e, no entanto, o leitor descobre que toda essa angústia se deve ao assassinato que cometeu, uma vez que não suportava a ideia de que Tavares havia roubado sua mulher e, desse modo, tem de conviver com tal sentimento até o fim de sua vida.