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Divisão espacial da população brasileira e conflitos em terras indígenas

Nesse vídeo o professor Hansen resolve uma questão sobre a divisão espacial da população brasileira e as disputas em territórios indígenas.

Transformações no território brasileiro e seus impactos

Integração nacional e o papel da telefonia

Mobilidade urbana e organização da população urbana brasileira

O papel do café na modernização da economia brasileira

Características recentes da urbanização brasileira

Brasil e a ocupação litorânea

Antes de entender como se deu a organização do território brasileiro, é fundamental saber qual a definição de território. O território pode ser compreendido como qualquer espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. Entendido esse ponto é possível avançar e perceber de que forma o território do Brasil foi sendo formado através da delimitação de suas fronteiras, até alcançar a configuração atual.

A ocupação do território brasileiro, ao longo do processo de colonização, foi concentrada no litoral. Tal processo histórico se manteve até a primeira metade do século XX, o que ajuda a explicar a grande desigualdade entre o interior e zona litorânea do país. É nessa região litorânea que estão localizadas as maiores cidades do país com maior produto interno bruto, renda per capital, desenvolvimento industrial, índice de desenvolvimento humano e urbanização. Uma evidência disso é o mapa abaixo da densidade demográfica brasileira que é significativamente maior na zona litorânea.

 

Economias de arquipélago

As atividades econômicas desenvolvidas no Brasil colonial foram fundamentais para expansão territorial brasileira. A economia era fundamentada em torno da produção de gêneros primários, voltados para exportação. O que explica o caráter litorâneo da ocupação do território nacional. Essas atividades são agrupadas e estudadas a partir dos ciclos econômicos:

  • Ciclo do Pau Brasil: Nessa fase inicial destacou-se a prática predatória de extração de Pau Brasil, no entanto, esse primeiro ciclo econômico não foi fundamental para a ocupação e organização do território, uma vez que a atividade tinha caráter seminômade e predatório, sem o intuito de fixação no lugar, acarretando apenas a construção de algumas vilas e povoados.
  • Ciclo do Açúcar: muito importante para a criação dos primeiros povoados, principalmente pela participação da figura dos bandeirantes. A necessidade de mão de obra para trabalhar nas lavouras e no beneficiamento da cana-de-açúcar leva ao surgimento das bandeiras. A partir dessas expedições, começa o processo de ocupação portuguesa em território espanhol, ultrapassando a linha do Tratado de Tordesilhas.
  • Ciclo do Ouro: com a competição externa ao açúcar brasileiro, a coroa Portuguesa decide voltar a busca por metais preciosos. Os bandeirantes vão ter um papel fundamental abrindo caminho para a descoberta do ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e em Goiás. Esse ciclo vai ser importante para ocupação de regiões interioranas. A partir dessa atividade vai ocorrer uma intensa migração em para essas áreas de mineração proporcionando a criação de diversos povoados e cidades e o surgimento de um mercado interno mais significativo. A capital é transferida para o Rio de Janeiro, e com isso o Nordeste perde sua importância política e futuramente econômica com o ciclo do café.
  • Ciclo do Café: a fase mais vigorosa ocorreu no século XIX e início do século XX. O café foi fundamental para a consolidação do território nacional. O desenvolvimento da produção do café exigiu uma infraestrutura moderna para escoar a produção, passando a ser atendida pelas ferrovias. Essas futuramente passam até a ditar o caminho da ocupação pelo interior de São Paulo. A grande contribuição é que atividade possibilitou um maior desenvolvimento e investimento em São Paulo e Rio de Janeiro, de forma que a região sudeste assegurou a supremacia na economia nacional.

 

Quando observados todos esses ciclos econômicos, geograficamente, fica mais fácil entender que o desenvolvimento do território brasileiro ocorreu em forma de arquipélago (ilhas), isto é, áreas que apresentam certo desenvolvimento, porém sem articulação. As atividades econômicas se desenvolviam de formas isoladas, basicamente buscando atender a demanda externa.

   

Organização do espaço econômico brasileiro no século XVIII

 

Adaptado de: MARINA, Lúcia. Fronteiras da Globalização

 

Industrialização brasileira e a concentração espacial

Para entender a industrialização do Brasil é necessário voltar ao ciclo do café, que foi o motor inicial para que esse processo ocorresse. Até o início da década de 1930, como ressaltado anteriormente, o espaço geográfico brasileiro foi estruturado exclusivamente ao redor do modelo primário-exportador, fazendo com que a configuração das atividades econômicas fosse dispersa e com rara ou ausente interdependência, o que implicou no processo de formação do território brasileiro.

A partir do crescimento da economia cafeeira, o processo de urbanização se intensificou, principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Toda uma infraestrutura de ferrovias e portos foram instalados para escoar essa produção. Com o fim da escravidão e a chegada dos imigrantes, o mercado consumidor também vinha crescendo consideravelmente, possibilitando a produção para o mercado interno e o desenvolvimento de algumas indústrias leves como a têxtil e a alimentícia. Dentre os fatores que beneficiaram a concentração industrial na região Sudeste podemos destacar:

  • Concentração de infraestrutura de energia, comunicação e transportes;
  • Concentração de mão de obra qualificada (lembrando a entrada de mão de obra estrangeira, em sua maior parte, já qualificada para os serviços fabris);
  • Concentração de mercado consumidor;
  • Rede bancária desenvolvida, por conta da presença de centros de produção de café.

 

É importante destacar que no contexto da Primeira Guerra Mundial muitos dos principais países industrializados estavam envolvidos ou tiveram sua produção afetada. Neste sentido, iniciou-se no Brasil a política de substituição de importações, ou seja, passou-se a produzir aqui o que antes se importava de outros países.

A partir de Getúlio Vargas, pela primeira vez na história brasileira, o governo passou a investir massivamente na indústria nacional, principalmente através da criação das indústrias de base, fundamentais para fornecer insumos para outras indústrias, dentre as quais podemos destacar a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce e a Petrobrás. Outra questão muito importante em Vargas e fundamental em uma sociedade urbana e industrial foi a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em 1º de maio de 1943, introduzindo novos direitos aos trabalhadores, regulamentando férias remuneradas, horários de trabalho, condições de segurança, salário-mínimo e a relação entre patrões e empregados.

 

Processo de urbanização brasileira

A década de 1930 é um marco da mudança da economia brasileira de agroexportadora para urbano-industrial. O processo de mecanização do campo estimulou o êxodo rural, produzindo grandes transformações sociais e espaciais no país. O crescimento urbano no Brasil foi tal como o dos países em desenvolvimento, isto é, ocorreu de forma rápida, desordenada e bem concentrada.

O processo de industrialização foi tardio, com uma indústria moderna e que não exigia tanta mão de obra. Ao longo das décadas de 1950 e 1960, já com Juscelino Kubitschek e os governos militares, a modernização do campo gerou um grande fluxo populacional para as cidades (êxodo rural). Como não havia emprego para todos, as áreas menos valorizadas, como encostas e margens de rios, passaram a ser ocupadas.

 

Meio urbano como espaço de conflitos e desigualdades

O Estado não conseguia planejar a cidade e dotar o espaço de infraestrutura. Assim, as áreas periféricas, sem infraestrutura, passaram a ser ocupadas pela população mais pobre, em um processo de expansão da periferia. Com isso, diversos problemas urbanos e impactos ambientais começaram a aparecer nas grandes cidades brasileiras, principalmente nas metrópoles, que atraíam o maior fluxo populacional. Esse crescimento acelerado das cidades sem igual construção de infraestrutura gera um inchaço urbano, denominado macrocefalia urbana. Além disso as cidades brasileiras são marcadas pela segregação socioespacial, isto é, fragmentação do espaço a partir da renda.