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A Miscigenação da População Brasileira

Nesta aula o professor Claudio Hansen aborda uma, entre, as principais características da população brasileira: A miscigenação.

O Indígena e O Europeu

A Chegada do Africano no Brasil

A Interação Étnica Brasileira

Grupos Europeus no Brasil

A Participação Asiática na Identidade Brasileira

As Mais Recentes Participações Étnicas no Brasil

Espacialização dos Grupos Étnicos Brasileiros

Formação da população brasileira

O Brasil é formado por diferentes grupos étnicos, o que, ao longo do tempo histórico, resultou em uma intensa miscigenação. Tal condição manifesta-se na comida, na arquitetura, no jeito de falar, em praticamente tudo o que resulta nessa identidade brasileira tão rica. Nesse intenso processo de miscigenação, três pilares étnicos ajudam a entender a população brasileira. São eles:

 Povos indígenas

O atual território brasileiro, antes da chegada dos portugueses, era ocupado por diferentes povos indígenas. O Censo 2010 registrou a presença de 900 mil indígenas no território brasileiro, mas estima-se que esses valores já alcançaram de 3 a 5 milhões, antes da colonização. Muitos foram exterminados, deixando uma marca sangrenta na história brasileira, e alguns outros sofreram com o processo de aculturação (assimilação cultural resultante do contato entre grupos diferentes). No passado, esses povos formavam verdadeiras nações, com costumes, crenças e organizações próprias. Hoje, representam pouco mais de 305 etnias, com 270 línguas diferentes, uma fração minúscula do que era no passado.

 Africanos

Os grupos africanos trazidos para o Brasil são principalmente os sudaneses (iorubás, jejes, malês, entre outros) e os bantos (cabindas, bengalas, tongas). Estima-se que cerca de 5 milhões de africanos foram capturados e trazidos para o Brasil, principalmente pelos portos do Rio de Janeiro e Salvador. O Brasil foi praticamente o último país a abolir a escravidão, sendo o maior com população negra fora da África. O Censo 2010 do IBGE revela que, quando somados aos pardos, correspondem a 53,6% da população, valor superior aos 45,5% de população branca.

 Europeus

Todos esses pilares étnicos, mesmo que agrupados, possuem uma diversidade interna muito grande. Não são apenas povos indígenas ou africanos, mas um conjunto extenso de grupos étnicos. Com a migração de europeus para o Brasil incentivada, com o intuito de atrair mão de obra e branquear a população brasileira, diversas nacionalidades da Europa migraram para o país. Esse grupo corresponde aos brancos na classificação do IBGE. Logicamente, se destacam os portugueses, mas não se deve esquecer os espanhóis, italianos, alemães, poloneses, entre outros, que entraram no país. Isso não quer dizer que esses são os únicos pilares da população brasileira. É importante destacar também o papel dos asiáticos, amarelos na classificação do IBGE, oriundos tanto do Oriente Médio como do Extremo Oriente.

No gráfico abaixo, é possível se observar o intenso processo histórico de migração na formação populacional brasileira.

  

Adaptado por Marcus Oliveira. Dados extraídos de: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/

 

É possível, inclusive, correlacionar alguns desses altos e baixos com alguns eventos históricos a nível nacional e mundial. Por exemplo, por um lado, o crescimento da imigração no período da Primeira Guerra Mundial e da crise de 1929; por outro, a diminuição durante a Lei de Cotas da Imigração, instituída em 1934 no governo Vargas, que limitava a 2% o total de novos imigrantes.

 

Classificação do IBGE

Os dados levantados pelo IBGE refletem como as pessoas se identificam e parte do princípio de autodeclaração. Nesse sentido, a autoidentificação não respeita necessariamente taxas geométricas de crescimento, uma vez que a aceitação e valorização da identidade afetam como os indivíduos se autodeclaram. Por exemplo, o crescimento da população indígena a partir da Constituição de 1988 foi exponencial, pois, cada vez mais, a cultura e identidade desses povos eram respeitadas. Todavia, muito desse processo é lento, tanto que o Censo 2010 foi o primeiro a oferecer, de fato, a opção indígena como autoidentificador.

De qualquer forma, a espécie humana é única e não existe raça ou cor, sendo esses conceitos históricos, e não biológicos. As pesquisas do IBGE possibilitam cinco opções para o enquadramento: branca, preta, amarela, parda e indígena. Os pardos agrupam a maior miscigenação nesse contexto, pois eles correspondem ao cruzamento entre grupos étnicos, os pilares da população brasileira: o mulato (branco + negro), o caboclo ou mameluco (branco + índio) e o cafuzo (índio + negro).

 

Adaptado por Marcus Oliveira. Dados extraídos de: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/

 

Crescimento da população

Em 1900, o Brasil tinha 17,4 milhões de habitantes. Já 120 anos depois e segundo projeções do IBGE, esse valor alcançou 211 milhões de brasileiros. O crescimento nesses 120 anos foi acelerado, sendo o país o quinto mais populoso do mundo. Esse período de crescimento acelerado ocorreu principalmente a partir de 1940 e se estendeu até 1960, com a queda na taxa de mortalidade. Tais dados podem ser observados nos dois gráficos abaixo. Nesse período, o país cresceu a taxas médias de quase 2,9% ao ano. Entre as razões para esse aumento, é possível se destacarem as conquistas na medicina e o avanço no saneamento básico.

 

Taxa média geométrica de crescimento anual da população

 

Adaptado por Marcus Oliveira. Dados extraídos de: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/

 

 

Taxa bruta de mortalidade

 

Adaptado por Marcus Oliveira. Dados extraídos de: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/

 

Porém, a partir da década de 1960, com o intenso processo de urbanização, as taxas de crescimento começaram a declinar. A urbanização iniciou profundas mudanças no modo de vida das mulheres, bem como no custo de vida para se ter um filho. Isso fez com que as taxas de fecundidade e de natalidade começassem a cair. Em 2015, essa taxa de crescimento populacional era de apenas 0,83%. A taxa de fecundidade desse período alcançou os menores valores registrados, de 1,7 filhos por mulher.

 

Taxa de fecundidade

 

Adaptado por Marcus Oliveira. Dados extraídos de: https://seriesestatisticas.ibge.gov.br/

 

Atual contexto da população brasileira

O Brasil, nesses últimos anos, passou por significativas mudanças na estrutura da sua população. Mudanças na taxa de natalidade, mortalidade e fecundidade discutidas nesse material mostram todo esse caminho. Todavia, o mais importante é entender quais são os efeitos socioeconômicos dessa transformação.

Desaceleração do crescimento: a população brasileira continua crescendo, porém, em um ritmo menor. A quantidade de filhos por mulher diminuiu de forma expressiva, e isso ajuda a explicar essa menor taxa geométrica do crescimento populacional.

Redução da taxa de jovens: as menores taxas de natalidade e de fecundidade mostram o país em uma transição demográfica do nível 3 para o nível 4, assunto discutido na aula sobre Transição demográfica e seus desafios.

Crescimento da expectativa de vida: com a melhora na qualidade de vida e nas condições básicas da população brasileira, resultante da urbanização, industrialização e respectivo crescimento econômico, observou-se, nos últimos anos, um crescimento da esperança de vida ao nascer. Tal condição revela um processo de envelhecimento da população, que irá demandar maiores serviços médicos do setor de geriatria, bem como um melhor planejamento para as aposentadorias, ponto iniciado pela Reforma da Previdência aprovada em 2020.

Bônus demográfico: todas essas alterações indicam também que o Brasil ingressou no período de janela ou bônus demográfico, momento no qual há predomínio de adultos (População Economicamente Ativa) em relação aos idosos e jovens (População Economicamente Inativa).

Por fim, no gráfico abaixo, pode-se visualizar o crescimento vegetativo brasileiro do passado e as projeções para as próximas décadas. É possível se observar tudo o que foi discutido até agora, mas também o momento em que a população brasileira deixará de crescer, apresentando, pela primeira vez, crescimento vegetativo negativo, isto é, se não houver fluxo migratório significativo, a população brasileira, na década de 2040, começará a diminuir. Lembrando que essa é uma projeção e que esses valores podem e irão mudar, à medida que os anos passam.

 

Brasil: nascimentos, óbitos e crescimento vegetativo – 1980-2044

 

Fonte: MOREIRA, J. C. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização.