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O que foi a Revolução Verde?

Acompanhe a aula sobre a Revolução verde.

Formação do complexo agroindustrial (CAI)

Transgênicos e a expansão da soja

Avanço agrícola e o desmatamento

Agricultura familiar e o seu papel no Brasil

 

Revolução Verde foi um processo que levou à passagem da agricultura tradicional, caracterizada pelo plantation e uso intensivo de mão de obra, para a agricultura moderna, através de inovações tecnológicas que permitiram aumentar a produtividade agrícola.

  • Revolução Verde: momento em que um conjunto de técnicas e novas tecnológias chegaram ao campo, envolvendo a modernização e mecanização agrícola.

No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, a Revolução Verde teve início nas décadas de 1960-1970, com expansão dos aparatos tecnológicos necessários para modificação produtiva em larga escala. Anteriormente, a indústria estava associada à cidade, enquanto a agricultura, a pesca e a pecuária estavam associadas ao campo. Com a Revolução Verde, a relação campo-cidade se intensificou, com o campo dependendo cada vez mais da cidade e vice-versa.

Nesse momento, a agricultura passou a exigir um número menor de mão de obra, com o perfil mais qualificado, isto é, mais preparada para manusear os maquinários agrícolas, as técnicas de cultivo, fertilização e utilização de agrotóxico. Essa nova demanda estimulou o chamado êxodo rural (fluxo de população do campo em direção à cidade), devido à diminuição da oferta de empregos no campo.

De modo geral, pode-se dizer que a chegada do grande capital ao campo e da consequente modernização agrícola elitizou o acesso a terra e a produção de alimentos. O desemprego e mudança da demanda por um perfil de mão de obra cada vez mais qualificada. Essa mudança no perfil do trabalhador que reside no campo, altera a paisagem do agrícola, criando uma nova cultura rural. Além disso, o campo se torna mais lucrativo, os trabalhadores passam a ter uma renda elevada, resultando em uma demanda por melhores serviços

Nesse novo modelo, a capacidade de produção de alimentos no mundo aumenta exponencialmente. Adapta-se as sementes para expansão do cultivo a nível molecular, e corrige com ciência e tecnológia os problemas no processo de cultivo, garatindo a produtividade. No geral, planta-se em larga escala para exportação, o que foi um dos motivos para aumento da concentração fundiária, já histórica em nosso país. Nesse momento, pequenos produtores passam a não conseguir mais concorrer com as grandes estruturas tecnológicas, além do desemprego já citado e os impactos ambientais aumentando exponencialmente.

Mas este cenário causa também maior dependência econômica do campo em relação a cidade, uma vez que é no meio urbano que esse novo campo dispõem de verba, tecnologia, consumo, leis, pesquisa, decisões administrativas, incentivos do sistema financeiro, transportes…

No Brasil, a expansão da fronteira agrícola se deu do Sul, para o Centro Oeste, e hoje caminha na direção das regiões Norte e Nordeste, sendo um dos principais vetores de desmatamento da Amazônia. A nova estrutura produtiva do campo é chamada de CAI (Complexo Agroindustrial) ou agroindústria, e consiste em três etapas principais:

  • Primeira etapa – indústria de insumos: Tudo o que é necessário para desenvolver a atividade agrícola, como maquinário, irrigação, adubação, correção do solo, agrotóxico e Organismos Geneticamente Modificados (OGM).
  • Segunda etapa – agricultura e pecuária: Atividade típica do campo, plantação e criação de animais. O Brasil se destaca muito nos dois, tanto na agricultura quanto na pecuária, pois investe em tecnologia e pesquisas.
  • Terceira etapa – indústria de beneficiamento: Consiste na adaptação dos produtos agrícolas para os moldes do mercado, ou seja, a etapa final não é mais a colheita agrícola. Cabe destacar que o beneficiamento agrega valor ao produto.

 

A questão dos transgênicos

Entende-se por trangênico as sementes geneticamente modificadas. Ao longo da história humana pode-se dizer que são muito antigas as técnicas de selecionar espécies geneticamente mais fortes, ou até cruzar plantas com características desejadas pelo homem para o consumo. Porém, os transgênicos passam a ser característica da Revolução Verde uma vez que contam com alta tecnologia molecular. A genética das sementes são desenvolvidas e patenteadas por empresas. O crescimento desse uso se relaciona a lógica de exportação: se a ideia é plantar para exportar para o mercado internacional, é preciso produzir em larga escala, e de modo a garantir a produtividade. Para produzir muito, subentende-se uma estrutura produtiva concentrada, no sentido de enormes pedaços de terra para o mesmo cultivo. Subentende-se também que, para garantir a produtividade, plantarei uma semente com a garantia de sucesso, que se adapte ao solo, em biomas diversos e não típicos, e não dependa muito de fatores climáticos para acontecer. Logo, essa prática aumenta a produtividade de alimentos no mundo.



Você deve estar se perguntando: ingerir alimentos que foram modificados geneticamente, faz mal a saúde? Ora, pensemos na lógica da biologia. Quanto maior a disponibilidade de recursos alimentares, a população que consome esse recurso tende a crescer. Se estamos plantando um único gênero agrícola em larga escala (monoculturas), um inseto que se alimenta daquela planta tenderá também a se multiplicar – é o que chamamos de pragas. Para conter as pragas, inerente a esse modelo produtivo, realiza-se uma verdade venda casada: vende-se a semente transgênica junto com o agrotóxico que aquela planta será resistente. Por isso, o debate para a saúde se concentra mais na ingestão de agrotóxicos e na poluição hídrica que eles podem causar do que na semente geneticamente modificada em si. Em 2011, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida divulgou que cada brasileiro consumia cerca 5,2 litros de agrotóxico por ano. As médias em 2017 chegaram a 7 litros de agrotóxico por brasileiro, por ano.

Sugestão de documentário – O veneno está na mesa e O Mundo Segundo a Monsanto, disponíveis no Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=8RVAgD44AGg

https://www.youtube.com/watch?v=y6leaqoN6Ys

 

A expansão da Fronteira Agrícola

Sul do Brasil foi amplamente ocupado por migrantes europeus que viram no litoral sul do Brasil uma oportunidade, a partir da distribuição de terras feitas pela coroa portuguesa. O Sul tem a menor extensão territorial do Brasil, o que limitava o desenvolvimento agrícola, além da falta de infraestrutura à época. Para se ter uma ideia, podemos comparar o tamanho inteiro do sul do Brasil com o tamanho do estado de Minas Gerais. Possuindo um clima subtropical, teve tipos agrícolas típicos de cereais como soja, trigo e cevada. Com a Revolução Verde e a modernização do campo, não estávamos mais restritos as condições climáticas para plantio, podendo expandir a fronteira produtiva. A modificação genética da semente da soja permitiu a expansão da fronteira da soja para o Mato Grosso do Sul. Isso fez com que muitos Gaúchos comprassem grandes latifúndios nesse estado, além de receberem a missão de colonizar terras do Mato Grosso.

Além da expansão do domínio da soja, a política de JK e a construção de Brasília também estimularam o crescimento do Centro-Sul. O estimulo a ocupação dessa região, em direção ao Norte, e a criação de novos eixos rodoviários, possibilitou a venda de terras e o aprofundamento do dinamismo econômico na região. Outro impacto do processo de modernização do campo foi a crise na agricultura, que aumentou a concentração fundiária e o desemprego rural. Houve então um fluxo migratório também dos pequenos agricultores e da mão de obra excedente do campo sobretudo para Mato Grosso do Sul e Goiás. O programa de desenvolvimento da Amazônia fazia parte desse projeto estimulando a migração e a ocupação da região Centro-Oeste, acompanhando o avanço da soja para o Norte. Muitos nordestinos migravam a pé para a região fugindo da seca e da miséria, vendo uma oportunidade de emprego na construção de Brasília.

Uma migração mais robusta e direcionada pelo estado também se deu, para a expansão da fronteira agrícola em Goiás e Mato Grosso. A elite imobiliária do Sul foi uma grande responsável pela criação de agrocidades no centro oeste, expandido a fronteira agrícola. Lembra que a soja era muito presente no sul? Então, com a modernização do campo e a alteração genética nas sementes, passa a ser possível estabelecer monoculturas numa região mais quente com solo mais empobrecido, deixando de depender tanto dos fatores naturais para a produção funcionar. É importante descatar a participação da colonizadora SINOP S.A que recebeu glebas de terra do governo para ocupar a região do centro-oeste.

Essa mesma elite deu início a cinco cidades no Paraná no início da colonização, foram elas Terra Rica, Iporã, Ubiratã, Formosa do Oeste, Jesuítas, e outros 5 distritos. E também receberam a missão de de ocupar a Gleba Celeste, área que equivale a 645mil hectares no Mato Grosso, fundando as cidades de **Vera, Santa Carmem, Claudia e Sinop, expandindo a fronteira agropecuaria e a industria madereira para as regiões. Eles contaram também com a migração do êxodo dos trabalhadores mais pobres do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul para compor a mão de obra não qualificada nas cidades criadas por eles. Essas cidades são muito voltadas para o agronegócio, possuindo atividades como por exemplo o comércio de tratores, faculdades de agronomia. Uma economia típica de uma agro-cidade.

Pode-se compreender que o Centro-Oeste é uma das regiões mais urbanizada do Brasil por causa da mecanização na produção da soja e da construção dessas cidades a partir da iniciativa privada, estimulada pelo estado, direcionando a produção da mão de obra para o novo projeto de organização territorial brasileira. O desmatamento do cerrado também foi uma consequência desse período de modo que o Centro-Oeste começa então a ser associado ao setor agropastoril. A expansão da soja vai principalmente para a direção Norte depois de dominar o Centro-Oeste, sendo o Mato Grosso considerado o coração do agronegócio no Brasil. O Pantanal passa a sofrer com o impacto do gado, que não é muito típico da região por suas características físicas e geográficas. Existiram leis que tentaram controlar a chegada da soja na Amazônia porque, apesar de ser lucrativa, tem muitas perdas ambientais. Com o cerrado já muito desmatado, foi proibido desmatar áreas de floresta para plantar soja. Assim, a pecuária vem estrategicamente abrindo área para posteriormente se introduzir a soja, trigo, milho e outros commodities. A agroindústria é muito forte no Centro-Norte brasileiro, assim como no Sul e em parte de São Paulo, sendo a capital da agroindústria do Brasil a cidade de Ribeirão Preto no interior de São Paulo.
Hoje, o campo brasileiro é caracterizado por uma produção moderna e muito depende de capital. O avanço sobre o Centro-Oeste e o desmatamento do Cerrado possibilitaram transformações significativas no território brasileiro. O Brasil é uma potência agrícola próxima dos Estados Unidos e da União Europeia, mas a um custo do crescente desmatamento e de muitos conflitos no campo. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) é um dos principais grupos que luta pela Reforma Agrária, uma forma de reorganizar essa estrutura fundiária altamente concentrada. Porém, muitos de seus assentamentos sofrem ataques por determinados fazendeiros e o campo brasileiro acaba sendo manchado por sangue. O MAPITOBA – Maranhão, Piaui, Tocantins e Bahia, e o Bico do Papagaio (extremo norte de Tocantins) são as regiões mais violentas do campo.

 

Principais atores envolvidos nos conflitos no campo

Posseiro e Grileiro

Os posseiros são pessoas que tomam a posse de uma terra que não é sua. Essa atitude é justificada pela lei do Usucapião que faz um indivíduo ganhar a posse definitiva da terra se a desenvolveu produtivamente e morou nela por pelo menos 5 anos. Os grileiros falsificam documentos para se apropriar de terras que já têm posseiros, que já pertencem a outras comunidades ou ocupadas, mas com interesse de ser explorada. A falsificação do documento acontece com a prática de guardar o documento falso com grilos, o que deixa a aparência do papel mais antiga. Essa prática normalmente foi feita por gente importante dificultando a denúncia por parte dos grupos que na correlação de forças que sempre saem em desvantagem.

Madeireiros e Mineradoras

A exploração do pau Brasil, da cana de açúcar e da soja já representava um grande impacto ambiental, visto que para o desenvolvimento destas atividades o desmatamento é uma prática comum. O avanço da soja, do milho e da pecuária são os maiores responsáveis pela destruição da Amazônia, mas também houve o desmatamento causado pela criação de rotas de deslocamentos.

As famílias quando trabalhavam com a soja tinham o interesse indireto de que a agropecuária derrubasse a madeira, e passam muitas vezes a ser extratoras de madeira legal e sustentável podendo comercializar. A retirada deixa de ser a esmo e passa a ser planejada e controlada e é melhor para as famílias reduzindo os conflitos das pequenas famílias que trabalhavam com a soja.

Outra questão é que diferente da agricultura e da pecuária, atividades que podem ser adaptadas a vários espaços diferentes, a mineração só pode ocorrer onde o minério está. Isso faz com que as áreas que possuem minério sejam quase que automaticamente das mineradoras, gerando conflitos até com o agronegócio, não trazendo a população rival para dentro da mineradora. Essa prática comum até hoje no Brasil gera muitos impactos sociais e ambientais. Temos como exemplo Belo Monte e Mariana, onde o mercúrio polui fortemente o solo e as águas. Além disso, essas grandes obras possuem um forte impacto local, com remoções ou profunda alteração da estrutura socioeconômica local, no geral sem medidas compensatórias. Os índices de violência a mulher por exemplo, em cidades pequenas aonde ocorrem esses empreendimentos tende a crescer vertiginosamente.

Além disso há esquemas de escravidão por dívida por meio dos “Gatos”. Esses atores sociais são pessoas que chegam até famílias que não tem o mínimo, oferecendo emprego, leva pra Amazônia paga a passagem de ônibus a mudança da família, um pouco de comida prometendo trabalho. Mas quando a pessoa chega é surpreendida com a notícia de que está devendo tudo que foi cedido para que ela trabalhasse no local. Sendo iludidos, chega longe da terra natal e trabalha em regime de escravidão por dívida, por estar devendo tudo para esse gato, ao invés de receber o salário, o trabalho tenta compensar uma dívida gigante, por dever a passagem dele, da família, a mudança, a comida, a casa, o material de trabalho. Com uma dívida gigante, a pessoa não pode receber salário nem sair dali até pagar, trabalhando sem receber nada em regime similar ao da escravidão.

Criação de reservas indígenas e ambientais

A constituição de 88, dita constituição cidadã, visa o reconhecimento dos povos presentes no Brasil numa maior política de inclusão com teórico respeito aos indígenas e quilombolas. O nosso país tem número razoável de reservas, 12% das terras são de reservas sendo a região norte a que tem a maior concentração. A maior parte das reservas tem um contingente populacional pequeno em relação a sua área. Também por isso a fiscalização das reservas é falha. Apesar da lei, os conflitos de interesse dos atores que querem usar as terras como agronegócio, madeireiras, tráfico internacional, etc, não permitem que a reserva se mantenha. Os dados mostram que houve mais desmatamento em áreas de reserva do que fora da Amazônia. O código florestal aprovado em 2012 favoreceu a bancada ruralista e não os ambientalistas transformando cada vez mais o espaço do campo num território hegemônico, violento e desigual.

Agricultura familiar

É um modelo tradicional que não conta com técnicas modernas e grande volume de capital, desenvolvendo-se em pequenas e médias propriedades. Esse modelo pode adotar métodos produtivos modernos e obter uma maior produtividade, porém, o vínculo familiar com a terra ainda existe. A policultura faz parte desse núcleo produtivo e corresponde ao cultivo de diferentes produtos agrícolas voltado para o mercado interno. A agricultura familiar também está relacionada ao conceito de agricultura de subsistência (plantio e consumo próprios) e é marcada pelo predomínio de técnicas tradicionais, como as queimadas localizadas para abrir espaços para as roças e o pousio da terra. Sobre as queimadas, é importante pontuar que podem ser uma importante técnica de fertilizar e enriquecer a parte mais superficial do solo com matéria orgânica. Porém, se realizada por muito tempo pode causar a desidratação do solo. Já o pousio da terra significa deixar a terra descansando, caracterizando um uso não intensivo da terra, respeito seu tempo de resiliência e diminuindo o desgaste do solo.

Sugestão de Documentário – Terras Brasileiras disponível no Youtube.
https://www.youtube.com/watch?v=ebfv6c4aj2A&t=1497s