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Contexto histórico

Aula sobre contexto histórico. Confira!

Florestan Fernandes

Caio Prado Jr

Darcy Ribeiro

Análise social

Sociologia brasileira: Década de 40

O pensamento sociológico brasileiro da década de 40, enquanto forma de pensar a realidade social do nosso país e de desenvolver uma consciência crítica sobre ela, ganhou uma importância muito grande a partir de diversos temas relevantes como, por exemplo, as desigualdades sociais, os regionalismos, as políticas indigenistas, tradições, preconceito, mobilidade social e assim por diante.  Falaremos brevemente sobre as principais contribuições de três grandes sociólogos desta época, são eles: Octavio Ianni (1906 – 2004), Florestan Fernandes (1920 – 1995) e Darcy Ribeiro (1922 – 1997).

Octavio Ianni

Octavio Ianni formou-se em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo em 1954, passando a integrar a cadeira de Sociologia I como professor assistente.  A vaga de titular era ocupada pelo colega Florestan Fernandes. Seu pensamento esteve voltado, fundamentalmente, para a questão das diferenças e das injustiças sociais, assim como dos meios através dos quais poderíamos superá-las. Ianni fez parte da escola de sociologia paulista, abordando o assunto do preconceito racial no Brasil de maneira original.  Ianni é considerado um dos principais sociólogos do Brasil, ao lado de Fernando Henrique Cardoso e Florestan Fernandes.  As principais obras de Ianni foram "Cor e Mobilidade Social em Florianópolis" (1960, em colaboração), "Homem e Sociedade" (1961), "Metamorfoses do Escravo" (1962); "Industrialização e Desenvolvimento Social no Brasil" (1963), "Política e Revolução Social no Brasil" (1965), "Estado e Capitalismo no Brasil" (1965), "O Colapso do Populismo no Brasil" (l968).

Um dos principais pensadores da análise da inserção do Brasil no capitalismo global, Ianni colaborou  consideravelmente com a teoria do capitalismo dependente, observando as dinâmicas da globalização e do imperialismo e de como a organização do sistema capitalista obrigava da burguesia nacional a se adaptar à um “lugar difícil” de opressor sobre seu povo e de oprimido frente à burguesia central. Tendo de lidar com a dependência crônica dos Estados recém-formados, as elites locais latino-americanas se valiam de ideias nacionalistas para manter de pé a coesão social, o que abria caminho para governos populistas, criticados por Ianni por mascarar os conflitos de classe internos da sociedade.

Florestan Fernandes

Florestan era filho de uma imigrante portuguesa que o criou trabalhando como empregada doméstica. Nascido em São Paulo em 1920, começou a trabalhar com 6 anos de idade, primeiro como engraxate, depois em vários outros ofícios. Precisou abandonar o curso primário por questões de ordem material.

Na Sociologia, seus trabalhos abordaram a escravidão e a questão racial, subdesenvolvimento, classes sociais, questão indígena e metodologia sociológica. Dessa forma, o pensador se tornou uma das referências centrais da Sociologia brasileira contemporânea.

Na sua análise sobre a escravidão, o sociólogo interpretou o fenômeno a partir dos ciclos econômicos do período colonial. Semelhante a proposta de Prado Jr., Florestan compreendia o funcionamento da economia brasileira como voltada para a exportação de bens e produtos tropicais a partir da imposição da metrópole portuguesa. Nesse período surgiram estruturas de dominação que sobreviveram ao processo de modernização capitalista no Brasil, já que a dinâmica colônia-metrópole permaneceu se ampliando para todo mercado capitalista europeu. Para Florestan, por isso, a escravidão marca nossa sociedade até os dias de hoje.

Entretanto, para afirmar isso, o pensador teve que confrontar a tese da democracia racial. Florestan afirma que essa tese ajudou a difundir a ideia de que no Brasil não há racismo, supondo uma convivência pacífica entre os grupos sociais, levando a crer que as condições e oportunidades econômicas, sociais e políticas dos dois grupos eram iguais. Essa crença ajudou a estabelecer o racismo no Brasil, já que o problema nunca foi encarado de frente. O negro no Brasil vivia em condições precárias por sua falta de ímpeto e estava satisfeito com sua situação social. 

Além de responsabilizar o negro por sua posição subalterna na sociedade brasileira, o mito da democracia racial desresponsabiliza o branco (principalmente os brancos da classe dominante) da desastrosa abolição da escravatura e conseguinte inserção do negro na sociedade do trabalho livre. Florestan afirmava, numa rime irônica com os títulos de seus livros, que o Brasil fracassou como sociedade moderna (no “A integração do negro na sociedade de classes” o autor afirma que essa integração é na verdade uma exclusão e no “A revolução burguesa no Brasil” fica evidente a incompletude da modernização do Estado brasileiro).

Darcy Ribeiro

Darcy Ribeiro foi um importante sociólogo, escritor, político e educador brasileiro, fundador de duas Universidades, a UNB e a UENF, feito único na história da cultura brasileira. O sociólogo brasileiro começou o trabalho de etnólogo em 1947 no antigo serviço de proteção ao índio em 1947 e criou o museu do índio em 1953. Além disso, ele foi o autor da Lei de Diretrizes Básicas da Educação aprovada pelo governo Fernando Henrique Cardoso em 1996.  Seus estudos antropológicos se concentram, fundamentalmente, na questão dos índios.  Ao contrário de Gilberto Freyre (1900 – 1987), que considerava que “a miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a senzala”, Ribeiro não compreendia essa miscigenação como sinônimo de democracia racial.  Do seu ponto de vista, só se poderia viver uma democracia racial na medida em que houvesse democracia social.  Essa compreensão de Darcy Ribeiro aparece claramente em seu importante livro “O povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil”, editado em 1995.  Na obra, o autor considera a miscigenação como principal fator que caracteriza a diversidade no Brasil. Esse processo teria se iniciado assim que os primeiros portugueses chegaram ao país, tendo se desenvolvido a gestação étnica brasileira em todo o período colonial (1530 – 1815).

Para compreender o pensamento de Ribeiro é importante atentar para sua filiação teórica e um dos conceitos mais mobilizados em seu pensamento. Ribeiro era um neoevolucionista. Isso significa dizer que ela adepto de uma escola que retomada a influência evolucionista de Darwin para a formação social. Apesar disso, é importante ressaltar também que essa retomada toma cuidado, em alguma medida, com o etnocentrismo e a eugenia. Abandona-se o determinismo natural. Não há uma comparação hiearquizadora entre sociedades e comunidades, mas observações sobre suas trajetórias históricas. Nessa escola se considera que a formação das sociedades segue por saltos ou rupturas nos sistemas produtivos e que esses saltos provocam grandes transformações, ou evoluções, sociais. O processo civilizatório decorre em vários desses saltos, sendo os mais importantes a revolução agrícola, a revolução urbana, a revolução da irrigação, a revolução metalúrgica, a revolução pecuária, a revolução mercantil, a revolução industrial, a revolução termonuclear. Para analisar esse processo sem cair num evolucionismo social, Ribeiro se vale do conceito de identidade cultural, que se forma a partir da instrumentalização de signos para mobilização de símbolos que corresponderão a identidade de um grupo. Dedica-se profundamente a pensar a questão da identidade latino-americana.