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Noções básicas de Identidade e alteridade

A professora Larissa faz uma breve introdução às de Identidade e alteridade e seus reflexos.

Identidade cultural

Alteridade cultural

Principais autores

Identidade é o conjunto de caracteres próprios e exclusivos com os quais se podem diferenciar pessoas, animais, plantas e objetos inanimados uns dos outros, quer diante do conjunto das diversidades, quer ante seus semelhantes. 

“Identidade” é também um conceito importante em matemática; constitui o seu pilar principal através do 'Princípio da Identidade': o axioma fundamental da matemática.

Como podemos ver, sua conceituação interessa a vários ramos do conhecimento (história, sociologia, antropologia, direito, etc.), e tem, portanto, diversas definições, conforme o enfoque que se lhe dê, podendo ainda haver uma identidade individual ou coletiva, falsa ou verdadeira, presumida ou ideal, perdida ou resgatada. Identidade ainda pode ser uma construção legal, e, portanto, traduzida em sinais e documentos, que acompanham o indivíduo.

Especialmente caro para a Antropologia, o conceito é discutido desde o início do séc. XX, com os estudos dos alunos de Franz Boas. Apesar disso, o conceito era lateral na época. Sempre mobilizado em articulação com algum outro fenômeno social, representava a imagem que o grupo produzia de si mesmo, representando uma noção de equilíbrio. Posteriormente o conceito alcançou novo estatuto, resultado dos efeitos do avanço do capitalismo e da globalização. O aumento do fluxo de pessoas, mercadorias e informações fez com que a noção de identidade se conectasse a noção de distinção, pois esse contexto intensificou a percepção da diferença.

O conceito de identidade ganha assim nova roupagem frente aos limites dos conceitos de cultura e etnicidade para dar conta da diferença. Indivíduos no interior de etnias e culturas não apresentam comportamento similar para que sejam classificados homogeneamente. A acentuação a diferença e a influência desses fluxos cada vez mais intenso são tão fortes que produzem particularidades mais profundas. De onde você é e quais são seus ancestrais já não dão conta de como as pessoas enxergam a si mesmas.

O que você faz no dia a dia passa a ser o foco. A partir do pensamento interpretativo de Geertz a Antropologia passa a perseguir ações, práticas e sentidos. A experiência do cotidiano de cada um passa a ser a composição da identidade e a principal forma de diferenciação entre as pessoas e grupos. A identidade é vista sempre como transitória, inacabada, sempre em construção. 

Mas por que o conceito de identidade se torna tão importante? Ora, porque a vida social se fragmentou tanto que não dá mais para usar categorias tão estáveis na sua análise. Qualquer pessoa tem múltiplas opções. A identidade não se preocupa com o que somos por origem ou pertencimento, mas com o que escolhemos por ação ou adesão.

Apesar disso, o conceito não está baseado numa concepção individualista da estrutura social, como se a identidade fosse uma mercadoria que adquirimos e trocamos quando está desgastada. A identidade articula a trajetória individual com a vida em comum, aquilo que fazemos e deixamos de fazer, a teia de fenômenos que compõe a sociedade. Aquilo que está fora do nosso alcance e controle é essencial para a formação da identidade, ou seja, a percepção da diferença se dá pelo contraste. A interação social com grupos diferentes e até formas de preconceito e discriminação moldam tanto nossa percepção sobre nós quanto aquilo que reconhecemos ser nossa composição.

Daí o conceito de alteridade ganha cada vez mais relevo. Antes condicionado também a noção de diferença social/cultural, ligada a noção de equilíbrio estrutural proporcionada por percepções como região de nascimento, ancestralidade, etnicidade etc. a alteridade passa a ser mobilizada para demonstrar a importância da diferença na composição do “eu”. A Alteridade (ou outridade) é, então, a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende de outros indivíduos. Assim, como muitos antropólogos e cientistas sociais afirmam, a existência do "eu-individual" só é permitida mediante um contato com o outro (que em uma visão expandida se torna o Outro - a própria sociedade diferente do indivíduo). Dessa forma eu apenas existo a partir do outro, da visão do outro, o que me permite também compreender o mundo a partir de um olhar diferenciado, partindo tanto do diferente quanto de mim mesmo, sensibilizado que estou pela experiência do contato.