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O que é cultura?

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Cultura indígena

Cultura indígena no Brasil

Principais Tribos no Brasil

Tribos brasileiras

O que é cultura?

Quando falamos de cultura o muito comum é que pensemos música, cinema, arte em geral, ou então que venha a nossa mente educação formal e instrução, formação acadêmica e por aí vai. Há também quem pense em cultura como um conjunto de práticas específico, um comportamento, uma etiqueta, sendo possível acumular essas características hierarquizando algumas como mais cultas e outras como menos cultas. Durante muito tempo o pensamento sobre os seres humanos e as sociedades partiram desse pressuposto, uma visão hierarquizada da cultura, pensando a cultura como um sinônimo do tempo civilização, um conjunto de práticas que o que há de melhor e de mais avançado em uma sociedade, sendo esse conjunto exclusivo de apenas alguns grupos humanos no mundo (potências europeias, no caso).

Quando o pensamento sobre cultura se organizou em ciência (Antropologia) essa abordagem foi a mais comum. Influenciados pelas ciências naturais já bem consolidadas, os pensadores da Antropologia aplicavam na humanidade noções de unicidade, previsibilidade, regularidade, evolução e desenvolvimento. Partindo de si mesmo como modelo de análise, os primeiros cientistas da cultura separavam as sociedades entre mais e menos evoluídas, tendo como noção de cultura todo o patrimônio intelectual e artístico produzido por suas sociedades. Essa postura deu base para a produção de teorias racistas e supremacistas. Os seres humanos foram classificados em diferentes raças biológicas, sendo a etíope (preta) a menos desenvolvida e a caucasiana (branca) a mais desenvolvida. Também houve espaço para projetos eugenistas, propostas de controle populacional e segregação que inibiam relações entre pretos e brancos e pobres e ricos, afirmando que características ruins como preguiça ou burrice (atribuídas aos pretos e pobres) eram biologicamente determinadas e hereditárias.

Essa visão embasou a atuação política das grandes nações europeias durante o séc. XIX, justificando a opressão e invasão de sociedades consideradas menos evoluídas com a desculpa de acelerar o processo civilizacional desses grupos. Com o desenvolvimento da ciência Antropologia, essa abordagem foi identificada e criticada, recebendo o nome de etnocentrismo. Concepção muito comum entre os primeiros antropólogos, o etnocentrismo representa a posição daqueles que acreditam no fenômeno humano como uno e, em certa medida, homogêneo. Sendo assim as comunidades humanas seriam comparáveis ficando a diferença confinada a uma noção vertical de gradação, ou seja, as diferenças que se apresentam entre as sociedades se explicam pelo grau de evolução, já que todos vieram do mesmo lugar (sociedade primitiva) e fatalmente chegariam ao mesmo lugar (sociedade civilizada). Os pensadores etnocêntricos creem que sim, há valores culturais superiores e, portanto, há sociedades mais civilizadas do que outras. Elegendo como parâmetro suas melhores características (no caso europeu o desenvolvimento tecnológico), esses estudiosos eram incapazes de perceber a arbitrariedade de sua postura.

Por sua vez, o relativismo cultural, concepção predominante hoje entre os antropólogos, é aquela que crê que não, não há valores culturais superiores em si mesmos, uma vez que toda avaliação cultural depende do ponto de vista adotado, que, por sua vez, é sempre fruto de uma cultura específica. Nesta visão, o valor das diversas culturas, portanto, é sempre relativo. Essa abordagem crítica ao etnocentrismo foi crucial para a virada da Antropologia e do conceito de cultura. Antes pensada como um fenômeno único, possível apenas às sociedades desenvolvidas, a cultura passou a ser aquilo que define o ser humano como ser humano, ou seja, aquilo que fazemos exatamente porque somos humanos. Dessa forma, todas as sociedades passaram a ter e produzir cultura, cada uma com sua especificidade. O conceito de cultura se desenvolveu de tal forma que hoje pode ser apresentado na Antropologia como todo e qualquer elemento da vida humana que não seja fisiologicamente determinado, isto é, que não seja fruto de nossa própria constituição física, química e biológica. Enquanto o natural é aquilo que o homem realiza espontaneamente, em virtude do seu próprio ser, como respirar, por exemplo; o cultural, por sua vez, é aquilo que é criado pelo homem em sociedade e que, portanto, ele adquire através do seu convívio com os outros: a habilidade de escrever, por exemplo.

Vê-se aqui que, enquanto o sentido cotidiano de cultura é bastante restrito, o sentido antropológico de cultura é bem mais amplo, incluindo sim o comer pipoca e o lavar louça como fenômenos culturais. Por outro lado, é bom lembrar que, por mais que a visão antropológica parta de uma diferenciação entre natureza e cultura, estes dois domínios não são completamente separados, mas, ao contrário, por mais que distintos, estão sempre muito conectados no mundo real. O fato cultural da existência da língua portuguesa, por exemplo, só existe em virtude do fato natural da capacidade humana de falar.

Invasão europeia

A chegada dos europeus no que hoje chamamos de Brasil foi marcada pelo encontro com a população que aqui vivia. A interação se deu principalmente com os povos que habitavam o litoral, que hoje é denominado tronco tupi. Os europeus, conforme sua postura beligerante, ocuparam a terra e buscaram formas de explorar a mão-de-obra daqueles que seriam denominados genericamente de indígenas, sem a preocupação de compreender os diversos grupos étnicos com os quais se depararam.

Mas, apesar do termo genérico, o que chamamos de indígena é na verdade um aglomerado de etnias e povos. Esses povos influenciaram fortemente na composição do Brasil. Dentre essas influencias podemos listar elementos mais simples como o costume de tomar banho todos os dias, a assimilação de diversos termos ao português brasileiro ou elementos mais complexos como seu profundo conhecimento do território nacional que ofereceu vantagem a colonização portuguesa, os conhecimentos medicinais ou até pelo uso de importantes componentes alimentares, como o aipim (conhecido também como mandioca ou macaxeira).

Evidentemente, o encontro com o branco foi definitivo para a população nativa. Além do comportamento opressor do europeu que tentava estabelecer o trabalho escravizado com os indígenas, as culturas nativas sofreram com a catequização forçada e até com a proliferação de doenças simples como a gripe, que, dada a diferença entre os sistemas imunológicos, eram fatais para os ameríndios. Estima-se que a população ameríndia era de 6.000.000 pessoas em 1500. Hoje a população ameríndia brasileira gira em torno de 800.000. 

Culturas indígenas

Resumidamente (muito resumidamente), cultura indígena é um termo que descreve toda a produção cultural dos povos ameríndios. Esse termo designa os costumes, língua, a organização social e política, seus rituais, seus mitos, arte, habitação, cosmologia e forma de relacionar-se com o meio ambiente de diversas etnias e povos. Fatores mais importantes de análise são os mesmos que temos na análise de outras culturas: língua, religião, composição familiar, rituais, manifestações artísticas, etc.

A divisão do trabalho é um fator importantíssimo para identificar esse grupo culturas ameríndias. Comumente essa divisão é baseada na diferença de gênero. Essa divisão atribuí aos homens trabalhos de aquisição de alimentos, construções e defesa do grupo. Já as mulheres são responsáveis pela manutenção da vida pelo preparo dos alimentos, criação das crianças produção de vestimentas.

A produção artística tem um forte senso prático. Artesanato, música, pinturas e outras formas de representação estão intimamente ligadas à rituais que buscam, de alguma forma, interagir com as forças presentes na cosmologia do grupo. Os adereços e objetos usados no corpo, assim como a pintura corporal, também representam símbolos que definem posições hierárquicas na comunidade ou até mesmo representações bélicas. É preciso ressaltar que, além de diferir bastante dos costumes de etnias e povos brancos e negros, essas manifestações culturais diferem bastante entre as próprias etnias ameríndias.

Principais povos do Brasil

Tupis-guaranis

Os tupis-guaranis são na verdade um aglomerado de etnias que compartilham características em comum. A principal delas é pertencer a uma das dez famílias linguísticas do tronco tupi, dentre elas as nações Tabajara, Guarani, Amaio, Tupinambá etc.

Na organização social desses grupos se costuma ter como maior autoridade a figura do pajé, um sábio que maneja a relação do grupo com seus mitos e crenças através de ritos. É essa figura que determina quando plantar ou colher, quando realizar festividades, qual o melhor momento para caçadas etc. Apesar disso, a figura de liderança é apenas simbólica (como na maioria das nações ameríndias). A autoridade política não existe da mesma forma como acontece no mundo ocidental, com a imposição e coercitividade do poder instituído. Em vez disso, o sábio é ouvido por sua notável capacidade de solucionar os problemas e pela admiração e respeito que inspira entre os seus. 

Carajás

Grupo que guarda grande relação com o rio Araguaia. Em sua cosmologia é muito comum que qualquer registro mitológico ou acontecimentos do cotidiano sejam atribuídos ao rio, sendo bons ou maus. Todos os membros participam ativamente do estabelecimento do bem estar comum. A divisão do trabalho entre gêneros é bem notável nessa nação.

Ianomâmis

Os Ianomâmis conservam uma característica bem peculiar das sociedades humanas, eles são seminômades. Isso significa que, ao perceber o surgimento da escassez os grupos dessa nação mudam de local e se reestabelecem em novos locais frequentemente. Sua principal fonte de alimentação é a caça. Uma outra característica do grupo é sua cosmologia. Os ianomâmis acreditam no animismo, compreensão da vida que revela uma intrínseca relação entre os humanos e outros seres vivos. No animismo todos os seres vivos são iguais, apesar de sua manifestação física ser diversa. Dessa forma, há um trato diferenciado entre os humanos e os outros seres vivos em comparação com a relação ocidental com a natureza. Matar seja lá qual for o ser vivo é matar um igual, levando essa relação a ser pautada pelo respeito e igualdade. Cada animal morto para a sobrevivência humana é reverenciado e seu espírito se junta ao grupo.